Quem é Ailton Krenak?
Ailton Krenak, escritor, jornalista, filósofo, ativista e líder indígena, nasceu em 1953, na região do vale do rio Doce, território do povo Krenak, um lugar cuja ecologia se encontra profundamente afetada pela atividade de extração de minérios. Ativista do movimento socioambiental e de defesa dos direitos indígenas, organizou a Aliança dos Povos da Floresta, que reúne comunidades ribeirinhas e indígenas na Amazônia. É um dos mais destacados líderes do movimento que surgiu durante o grande despertar dos povos indígenas no Brasil, que ocorreu a partir da década de 1970. Contribuiu para a criação da União das Nações Indígenas (UNI), e sua luta foi determinante para a conquista do “Capítulo dos índios” na Constituição de 1988. É coautor da proposta da Unesco que criou a Reserva da Biosfera da Serra do Espinhaço e é membro de seu comitê gestor. É comendador da Ordem do Mérito Cultural da Presidência da República, e, em 2016, foi-lhe atribuído o título de doutor honoris causa pela Universidade Federal de Juiz de Fora.
Do que se trata esta obra?
É uma obra contemporânea que lança um olhar sobre o homem de hoje. Em reflexões provocadas pela pandemia de covid-19, o pensador e líder indígena Ailton Krenak volta a apontar as tendências destrutivas da chamada "civilização": consumismo desenfreado, devastação ambiental e uma visão estreita e excludente do que é a humanidade. Portanto, a obra é uma crítica aberta a essas questões.
O livro “A vida não é útil” é um compilado de cinco textos que já estavam publicados anteriormente:
1. “Não se come dinheiro”
(Texto elaborado a partir de live de Ailton Krenak e Leandro Demori para The Intercept Brasil, 8 abr. 2020; fala de Ailton Krenak no evento Plante Rio, na Fundição Progresso, Rio de Janeiro, nov. 2017; e entrevista a Amanda Massuela e Bruno Weis, “O tradutor do pensamento mágico”, Cult, 4 nov. 2019.)
Neste capítulo, o escritor reflete que a pandemia de 2019 deixou claro que o lucro estava em detrimento da vida. Krenak sublinha que os sujeitos estão dominados pelo consumo e pelo entretenimento e, por isso, são indiferentes ao planeta Terra, que pede socorro.
2. “Sonhos para adiar o fim do mundo”
(Texto elaborado a partir de live no Festival Na Janela, da Companhia das Letras, com Ailton Krenak e Sidarta Ribeiro, 24 maio 2020; e entrevista a Amanda Massuela e Bruno Weis, “O tradutor do pensamento mágico”, Cult, 4 nov. 2019.)
Para o autor é urgente que haja mudanças para transformar positivamente a nossa realidade. Krenak diz ser necessária uma reconfiguração da ordem vigente, e que essa precisa ir além da lógica capitalista que conhecemos, criando uma nova maneira de olhar e sentir o mundo. Dialogando com os estudos do neurocientista Sidarta Ribeiro, para quem o sonho significa espaço de revelação, viagem e aprofundamento das ideias, Krenak afirma que os sonhos que temos ao dormir são “onde as pessoas aprendem diferentes linguagens, se apropriam de recursos para dar conta de si e do seu entorno”.
3. “A máquina de fazer coisas”
(Texto elaborado a partir de live Conversa Selvagem, com Ailton Krenak e Marcelo Gleiser, 17 abr. 2020; entrevista a Fernanda Santana, “‘Vida sustentável é vaidade pessoal’, diz Ailton Krenak”, Correio, 25 jan. 2020; live de Emicida com Ailton Krenak para o canal GNT na semana do meio ambiente, 6 jun. 2020; e live com os Jornalistas Livres, 9 jun. 2020.)
O capitalismo impulsiona o mercado a vender e as pessoas a comprar cada vez mais, sem discernimento e sem pensar como isso impacta a vida no planeta. Se queremos continuar a habitar a Terra devemos começar a rever nossas práticas de consumo.
4. “O amanhã não está à venda”
(Texto elaborado a partir de três entrevistascom Ailton Krenak, realizadas em abril de 2020: Bertha Maakaroun, “O modo de funcionamento da humanidade entrou em crise”, Estado de Minas, 3 abr. 2020; William Helal Filho, “Voltar ao normal seria como se converter ao negacionismo e aceitar que a Terra é plana”, O Globo, 6 abr. 2020; Christiana Martins, “Não sou um pregador do apocalipse. Contra essa pandemia é preciso ter cuidado e depois coragem”, Expresso, Lisboa, 7 abr. 2020. Publicado em e-book pela Companhia das Letras em abril de 2020.)
Discute o que parecia impossível: a suspensão de atividades econômicas, um mundo parado a partir de uma pandemia. Coloca ainda que não devemos voltar nunca mais a viver como antes, pois agora temos consciência de que o mundo que conhecemos pode acabar de repente. O amanhã é incerto.
5. “A vida não é útil”
(Texto elaborado a partir de conversa “Como adiar o fim do mundo”, O Lugar, 18 mar. 2020; live com os Jornalistas Livres, 9 jun. 2020; e entrevista a Fernanda Santana, “‘Vida sustentável é vaidade pessoal’, diz Ailton Krenak”, Correio, 25 jan. 2020.)
No livro, também levanta a polêmica de que a sustentabilidade é uma vaidade pessoal, além de uma narrativa para que se perpetue o consumismo. Apesar de reconhecer a importância da conscientização do gasto excessivo de tudo, não crê que seja por meio desse “mito” que vamos avançar. O autor afirma que é uma “mentira bem embalada” essa história de que, se economizarmos água, comermos orgânico e andarmos de bicicleta, vamos diminuir a velocidade com que esgotamos o planeta. Não dá para “abrir a boca para dizer que existe qualquer coisa de sustentável neste mundo de mercadoria e consumo”. Coloca ainda “O pensamento vazio dos brancos não consegue conviver com a ideia de viver à toa no mundo, acham que o trabalho é a razão de existência”.
Concluindo:
“A escolha que a humanidade fez com a industrialização e com a supervalorização da tecnologia, da técnica, esse caminho é o caminho que vai levar a gente à destruição. Esse é o resumo da minha parábola. Se a gente não parar com essa fissura pela tecnologia, pelo moderno, pelo novo, nós vamos acabar explodindo o planeta para nós, os humanos, porque o planeta vai continuar existindo para ele mesmo”, afirma Krenak em entrevista ao Instituto Claro.
Disponível para leitura em: A vida não é util (ufrgs.br)
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