O Autor
José Paulo Paes nasceu em Taquaritinga, interior de São Paulo, em 22 de julho de 1926. Sempre foi um apaixonado por livros. Estudou química e trabalhou em um laboratório farmacêutico por muitos anos. Um dia resolveu escrever poesias, primeiro para os adultos e depois para as crianças. Esqueceu a química e descobriu a magia da poesia infantil, aprendeu a brincar com as palavras e escreveu muitas poesias maravilhosas para as crianças. Depois de abandonar a química, trabalhou por 25 anos com edição de livros e traduções. Morreu em 1998, aos 72 anos.
A obra
“Prosas Seguidas de Ode Mínimas”, publicada em 1992, é um livro composto por vinte textos em prosa poética e treze poemas (chamados de odes). Tal obra traz uma visão crítica da vida, aquela que se adquire com a maturidade. Os textos celebram questões filosóficas abordando os temas com ironia e humor. Um exemplo disso, é o poema “Ode à minha perna esquerda”, no qual Paes reflete com um caráter crítico e irônico, um momento difícil de sua vida, quando teve que amputar a perna.
Os textos são curtos seguindo uma tradição epigramática da nossa fase modernista, da qual ele faz parte. Ou seja, Paes escreve composições poéticas, breves e satíricas, que expressam, de forma incisiva, um pensamento ou ideia, fazendo uso da palavra mordaz, do sarcasmo, da zombaria.
Ainda, segundo Renata Magalhães Vaz, em análise da referida obra, “quanto à tradição, mostra-se a forte ligação de Paes com seus precursores, notadamente percebida com Drummond e Bandeira, não deixando que passe despercebido o trabalho memorialístico realizado pelo poeta e sua posição na contemporaneidade”.
Análise
Entre outros temas, os textos de Paes, nesta obra, abordam o amor, a força da memória, a proximidade da morte e a crítica política, em textos líricos e cheio de experimentação quanto à forma, típico da influência que sofreu de outros poetas modernistas. Nas palavras do escritor Marcelo Coelho, "o autor faz uma poesia que, sem ser confessional, é íntima, cheia de lembranças e experiências biográficas. Fala de seus pais, de amigos mortos, da perna que teve de amputar, mas não cede nunca às tentações da autopiedade e do desespero".
Assim, analisa-se também as odes, parte alta da obra, sob a ótica irônica e humorística, pontos marcantes do autor, que conduzem sua produção à crítica pessoal e à autoironia.
De acordo com Renata Magalhães Vaz, Paes “organizou sua obra de maneira a percorrer todos os ciclos da vida. De seu primeiro poema – Escolha de túmulo – até o último – A um recém-nascido – o poeta ‘convence’ o leitor a aceitar a vida e suas amarguras. Ele mescla a distância dos entes queridos e suas separações com as alegrias da chegada de um recém-nascido. Ao mesmo tempo em que lamenta as perdas de seus familiares, as angústias da vida, exalta a felicidade e dá as boas-vindas ao novo ser. Há relação entre distância e proximidade, um limite entre o ‘nós’ e cada ‘coisa’, desconstrução da ode por meio da ironia e, concomitantemente, dá-se margem entre prosa e poesia e suas definições.”
O livro não pode ser disponibilizado, pois ainda recai direitos autorais sobre ele.
Fica aqui um dos textos para se ler e pensar nessas questões. Paes escreve para a televisão, criticando os usos que fazem dela.
Entendendo como o vestibular pode cobrar a leitura de um livro como este
À televisão
Teu boletim meteorológico
me diz aqui e agora
se chove ou se faz sol.
Para que ir lá fora?
A comida suculenta
que pões à minha frente
como-a toda com os olhos.
Aposentei os dentes.
Nos dramalhões que encenas
há tamanho poder
de vida que eu próprio
nem me canso em viver.
Guerra, sexo, esporte
— me dás tudo, tudo.
Vou pregar minha porta:
já não preciso do mundo.
(PAES, J. P. Prosas seguidas de odes mínimas. São Paulo: Companhia das Letras, 1992)
01. (UERJ) No poema, a televisão é humanizada, assumindo o papel de interlocutor do eu poético. Identifique o elemento linguístico que melhor caracteriza essa humanização e transcreva um verso em que ele apareça.
02. (UERJ) Indique o tema geral do poema e explique como ele é abordado criticamente por José Paulo Paes.
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