O Arcadismo
O Arcadismo, também conhecido como Neoclassicismo, faz referência a um movimento
literário que chegou da Europa ao Brasil em meados do século 18. Como o próprio nome sugere, tal movimento faz uma retomada de preceitos greco-latinos, tais como, o uso das estruturas poéticas como sonetos e liras; assim como os conhecidos temas clássicos, abaixo apresentados. Um outro ponto importante, é que o Arcadismo sofreu influência também do Iluminismo francês, que propunha a ideia da razão sobre a fé, o humano em detrimento do divino, indo contra, portanto, as ideias barrocas do século anterior.
No Brasil, o movimento artístico se une a outro importante movimento histórico, a conjuração mineira. Sendo assim, muitos dos poetas e intelectuais deste momento foram também ativistas no plano político.
Inutilia truncat (cortar o inútil): Deixar para trás, os exageros estilísticos propostos pela escola barroca do século anterior. Abandonar, portanto, os paradoxos, as antíteses e jogos de palavras, adotando uma linguagem simples e objetiva.
Carpe diem (aproveitar o dia/vida): Viver o presente, em harmonia com a natureza, em um ócio produtivo, ou seja, valorizar o descanso para produzir grandes obras.
Fugere urbem (fugir da cidade): Viver no campo era visto como mais produtivo e prazeroso, uma vez que os centros urbanos eram vistos como o lugar do caos e dos conflitos.
Locus amoenus (lugar ameno): O campo, espaço bucólico, é apontado como sendo o ideal para que o homem encontre sua plenitude, longe das ilusões e conflitos criados pela cidade.
Aurea mediocritas (equilíbrio do ouro): Exaltação de uma vida simples, sem miséria ou riqueza, mas com equilíbrio.
O Autor
Embora seja apontado como um autor árcade brasileiro, Antônio Tomás Gonzaga nasceu em Portugal, e, mesmo tendo morado no Brasil, passou mais tempo longe de nossas terras do que aqui propriamente. Assim, suas obras têm maior influência europeia do que de outros escritores brasileiros da mesma época.
Ele nasceu no Porto, em Portugal, em 1744. Órfão de mãe muito cedo, veio para o Brasil com o pai em 1751, onde permaneceu até 1761, quando retornou a Portugal. Em Coimbra, tornou-se bacharel em Leis em 1768 e chegou a ocupar o cargo de juiz de fora em Beja. Em 1782, está de volta ao Brasil, desta vez a Vila Rica (atual Ouro Preto), onde atuou como ouvidor dos Defuntos e Ausentes até se envolver com a chamada Inconfidência Mineira, do qual participaram outros escritores e o famigerado Tiradentes. Tomás foi acusado de inconfidente e permaneceu preso por três anos na Ilha das Cobras, no Rio de Janeiro. Após este período, foi exilado em Moçambique onde ocupou altos cargos na administração do reino, tendo falecido em 1810.
A obra
A obra intitulada “Marília de Dirceu” é um livro composto de poemas líricos, tendo sido publicado originalmente em 1792. Tem como tema central o amor em suas diferentes faces. O pastor Dirceu apresenta seu amor à sua musa Marília em um ambiente bucólico.
Muitos estudos apontam que Marília faz referência a Maria Doroteia de Seixas por quem Tomás teria tido uma paixão. Contudo, embora muitos críticos indiquem os poemas como autobiográfico, o que lemos no amor entre Marília e Dirceu é ficção.
A obra Marília de Dirceu é dividida em três partes. A primeira é composta por 33 liras. A segunda, por 38 liras. Por fim, a terceira parte tem nove liras e 14 sonetos. (obs: lira é um poema que contém estrofe de cinco a oito versos, decassílabos e os restantes hexassílabos, com um esquema fixo de rimas consoantes. Já um soneto é um poema composto por dois quartetos e dois tercetos, decassílabos com esquema de rima bem definido).
O livro não possui propriamente uma história, mas é possível acompanhar os momentos de amor e devoção de Dirceu a Marília e como esse amor se demonstra e se transforma, sempre no ponto de vista de Dirceu, eu-lírico dos textos (“narrador” dos poemas).
Análise
A principal característica a ser apontada, segundo os estudiosos da obra, é referente à retomada que ela faz de outros clássicos da nossa literatura, tais como Camões, Teócrito, Horácio e Petrarca.
Os poemas são descrição do amor do pastor Dirceu à pastora Marília em uma classe ideia da valorização do campo em detrimento à cidade. Todos os temas apresentados anteriormente neste texto, como fugere urbem e locus amoenos estão presentes da obra, além do amor e da mulher idealizados.
Segundo o professor da USP, Jean Pierre Chauvin, o livro Marília de Dirceu “reúne belos poemas de temática amorosa que dizem muito sobre os repertórios culturais de Gonzaga e comprovam o interesse geral em descrever e discutir os efeitos provocados por Eros ou Cupido, entre os latinos, em nossos corações e mentes. O amor é um tema universal, encontrado em todos os tempos e lugares.”
Pdf da obra disponível em:
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