Quem foi Caio Fernando Abreu (1948-1996) ?
Caio Fernando Abreu foi contista, cronista, poeta, romancista, dramaturgo e jornalista gaúcho reconhecido como um dos nomes mais importantes da literatura brasileira contemporânea. Passou a ser reconhecido com a publicação de Morangos mofados, em 1982. Em 1984, ganhou o prêmio Jabuti pelo seu livro O triângulo das águas. Já em 1989, foi a vez do livro Os dragões não conhecem o paraíso. E, em seguida, seu romance Onde andará Dulce Veiga? ganhou o prêmio APCA. Seus textos apresentam caráter intimista e angústia existencial, nos quais o homoerotismo é uma marca constante.
Características das obras de Caio Fernando Abreu
Embora analisar a literatura contemporânea não seja ainda uma tarefa fácil, podemos elencar alguns pontos importantes na obra deste autor. Sua escrita é marcada pela fragmentação (memórias, lembranças), pela intertextualidade (personagens próprios que conversam com de outros autores, como Clarice Lispector); caráter intimista com angústia existencial (típico de quem projeta um mundo sem utopias); temática social urbana; busca de identidade e homoerotismo são outras de suas características marcantes.
Morangos mofados (1982): do que se trata esta obra?
É um livro formado por 18 contos que não fogem aos temas acima descritos como típicos da escrita de Caio Abreu. A obra foi escrita e publicada em um período social e político delicado da história recente brasileira, promovendo, portanto, reflexões sobre a condição humana, a solidão, a repressão e o amor (em todas as suas formas). Podemos compreender o título do livro como algo simbólico: morango é a fruta doce, bonita, desejável; mas está mofado, ou seja, não pode ser consumido. Um paradoxo da própria existência naquele momento vivido pelo autor no período da ditadura militar.
O livro não é longo, mas a Unicamp selecionou 6 desses contos como leitura obrigatória:
1. Diálogo: trata da conversa meio sem pé nem cabeça entre A e B, em discurso direto em uma referência clara ao livro A hora da estrela.
2. Além do Ponto: um personagem sem identificação se mostra em busca de outra pessoa, alguém que, aparentemente, não conhece, cultivando um amor platônico recheado de medos, angústias e temores. Alguns podem interpretar como um homem em busca de outro homem (homoafeto), mas os críticos apontam como um Homem em busca de um Deus, da autoaceitação e autoconhecimento.
3. Terça-Feira Gorda: dois rapazes se conhecem em um salão de carnaval, se envolvem sexualmente até que são brutalmente violentados em um ataque homofóbico.
4. Pêra, uva ou maçã?: O conto se passa dentro do consultório médico. A personagem principal se encontra com o profissional lá duas vezes por semana lá. É nesse consultório que a personagem tem a oportunidade de compartilhar suas inquietações para que o profissional a ajude.
5. O dia em que Júpiter encontrou Saturno: o personagem, inconformado com a realidade, projeta na conjunção dos astros o sonho de uma mudança que traga uma vida melhor, em uma clara referência ao místico e ao esotérico.
6. Aqueles dois: O conto se passa dentro do consultório médico. A personagem principal se encontra com ele duas vezes por semana lá. Apesar de não haver uma clara descrição do espaço, fica claro que a escolha dele demonstra a melancolia na personagem. Ambientação dissimulada. É nesse consultório que a personagem tem a oportunidade de compartilhar suas inquietações para que o profissional a ajude.
O que observar?
Nas palavras de Heloisa Buarque de Holanda (2005), o que chama a atenção nesse livro é “um certo cuidado, uma enorme delicadeza em lidar com a matéria da experiência existencial de que fala”.
Assim, além dos temas já citados e da discussão social e política implícita na obra, uma questão importante a ser levada em conta nesta obra é a linguagem, tida como transgressora. Os contos são narrados em discurso direto livre ou mesmo apenas em discurso direto, com pouca ou nenhuma interferência de um narrador, por exemplo. A ironia e a irreverência na sintaxe são outros pontos a serem considerados. A intertextualidade com as personagens e a obra de Clarice Lispector aproximam Morangos mofados do romance existencial da autora do nosso Modernismo. Um ponto que pode ser usado pela Unicamp para comparar obras e estilos. Também é possível que partes dos contos apareçam para que o estudante estabeleça relações com a ditadura militar.
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