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Foto do escritorLudmila Ribeiro de Mello

Entendendo “Vida e Morte de M. J. Gonzaga de Sá”(Lima Barreto)

Quem foi Lima Barreto (1881 - 1922)?

 

          Afonso Henriques de Lima Barreto nasceu em Laranjeiras, Rio de Janeiro no dia 13 de maio de 1881. Filho do tipógrafo Joaquim Henriques de Lima Barreto e da professora primária Amália Augusta, ambos mestiços e pobres, sofreu preconceito a vida toda transformando isso em obras primas que retratavam os costumes do Rio e que fazem  crítica à mentalidade burguesa da época. Estudou engenharia, mas precisou abandonar o curso para cuidar dos três irmãos que ficaram órfãos. Trabalhou como escriturário e jornalista. Não alcançou em vida reconhecimento de seu trabalho literário. Morreu com 41 anos após duas internações por uso de bebidas e alucinações.

 

 Contexto histórico-literário: O Pré-Modernismo

 

Lima Barreto escreveu na primeira década do século XX, no período da primeira República, em um momento de transição entre a cultura europeia enraizada e a exigência por uma nova literatura, mais brasileira. Portanto, produziu durante um período conhecido como Pré-Modernismo, que não é considerado uma escola literária de fato. Entre outros autores desse momento destacam-se Euclides da Cunha e Monteiro Lobato.

Embora os autores do Pré-Modernismo ainda estivessem presos aos modelos de romance realista-naturalista, Lima Barreto apresentava uma linguagem mais simples e coloquial, próxima ao falar e ao escrever do brasileiro.

Para isso, teve de ignorar muitas vezes as normas gramaticais e de estilo, provocando a ira dos meios acadêmicos e conservadores.

Com histórias que remexiam em várias feridas da época como a escravatura, as injustiças sociais dos primeiros momentos da nova república, o preconceito e pregava uma desvinculação entre padrão acadêmico da linguagem e literatura, Lima Barreto veio a tornar-se uma espécie de cronista e um caricaturista se vingando da hostilidade dos escritores e do público burguês.

         

 

Vida e Morte de M. J. Gonzaga de Sá (1919) – sinopse

 

Como quase todo grande romance, o fio condutor da história é bastante simples, na qual Augusto Machado narra uma biografia de Gonzaga de Sá, seu amigo de trabalho na repartição pública. Para Machado, o colega de trabalho veio a se tornar um mentor das coisas importantes da vida, em diversas conversas e passeios por um Rio de Janeiro em crescimento acelerado ao estilo europeu no início dos 1900, com as diferenças sociais que isso acarretaria até hoje.

Contudo, o que encontramos de fato nos doze capítulos da obra é de um teor filosófico sobre as diferenças sociais, a importância (ou não) do conhecimento. A obra se trata da ideia de “como um homem íntegro e dotado de conhecimento pode viver em uma sociedade caótica e inconsequente como aquela?” A resposta: não pode.  

Com um teor engraçado e, muitas vezes, melancólico, o livro termina com a morte de Gonzaga de Sá, que acaba se arrependendo de ter sido uma pessoa livre e nunca ter encontrado o amor para fazer-lhe companhia principalmente em sua solidão final, acompanhado sempre de perto pelo jovem Machado.

A visão do livro e sua crítica social e civilizatória são bem definidas pelo trecho a seguir: “...levamos a procurar as causas da civilização para reverenciá-las como se fossem deuses... Engraçado! É como se a civilização tivesse sido boa e nos tivesse dado a felicidade!”

 

 

 

O que é importante saber?

 

          Primeiro, que se trata de uma obra precursora do Modernismo que viria, rompendo com várias características das escolas anteriores como o Realismo e o Naturalismo, como a forma de descrever, a linguagem formal e acadêmica, a visão unilateral dos fatos.

Barreto dá voz aos excluídos, como negros, escravizados e pobres, aproxima a linguagem escrita da popular, critica a burguesia emergente e a hipocrisia social. Levanta a voz contra o preconceito e mostra-se desiludido quando a república não muda a situação na qual os pobres e (ex)escravizados já viviam durante a monarquia.

Observar também que a estrutura da obra, na qual os doze capítulos podem ser lidos fora de ordem, propõe mais uma ideia de ensaio do que do gênero romance. Isso mostra que estávamos às vésperas de uma nova escola literária, o Modernismo.

Os temas como racismo, preconceito, burocratização, ascensão social formam o plano de fundo da obra e abrem margem a muitas discussões políticas, sociais e filosóficas. Essas características mudaram no século XXI?

A prova pode pedir uma relação entre o Brasil Império, escravocrata, aristocrático e o Brasil República, livre e burguês. Na prática, o que mudou de fato para a população mais pobre e desprivilegiada?


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