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Foto do escritorLudmila Ribeiro de Mello

O que se vestia por baixo das roupas nos séculos XVIII e XIX?

Quando se começa a ler o romance “1740 – a história de Anna” fica logo claro que a personagem principal odeia ter que usar o tal pannier. Para quem não conhece ou estudou os séculos passados pode ficar aquela dúvida ou ideia errada do que se vestia antes do famoso conjunto de hoje: calcinha e sutiã.

Bem, no século XVIII, estávamos ainda sobre a influência barroca, ou seja, predominam o exagero e a sobreposição de estilos, tecidos, enfeites e afins. Os vestidos eram volumosos e coloridos com belíssimos colos à mostra. Mas e para sustentar tudo aquilo? Aí é que entram as armações e underwears.

De meados do século XVIII até início do século XIX, as mulheres usavam uma espécie de camisola longa feita de linho e para os menos abastados tecidos mais rústicos como algodão tratado ou cru. As mangas podiam ser longas, curtas ou cavadas de acordo com o estilo de vestido a ser usado, a cor era predominantemente branca (até isso mostrava o luxo e a riqueza de cada família). Por cima, vinha um espartilho ou pair of stays (um tipo de corset que vinha por cima do vestido, como parte da roupa) , que sustentava os seios dando desenho à cintura alta. Depois, colocava-se uma armação lateral, chamada de pannier. Quanto mais nobre a mulher, maior deveria ser a extensão desta armação. Conta-se que Maria Antonieta, a famosa rainha francesa desta época, chegou a usar panniers com mais de um metro de cada lado!

Com a retomada da era Clássica, durante o período chamado de Neoclassicismo, no início do século XIX, as vestes das deusas gregas passaram a ser inspiração para a moda, estreitando a silhueta feminina. Os vestidos passaram a ser rentes ao corpo, marcando bem a parte inferior dos seios, com mangas curtas ou longas. Os vestidos de seda ou musseline eram bastante finos e, juntamente com as cores claras, levaram as mulheres a usar, além da chemise, um espartilho discreto para que não marcasse o tecido. As meias de algodão ou seda continuavam subindo até a altura das coxas e eram amarradas com fitas de cetim ou algodão para não deslizarem.


Com o avanço do século XIX, principalmente a partir da década de 30, os vestidos começam a voltar a ter cor, tecidos mais pesados e volume. Esse era proporcionado pelas camadas de saias engomadas ou em babados colocadas sobre a nova roupa de baixo que agora podia incluir uma pantalete (bermuda abaixo do joelho com abertura entre as pernas) e a camisa usada anteriormente um pouco mais curta. Em 1851, foi criada a crinolina, uma armação estruturada que substituiria as camadas de saias, deixando a roupa arredondada com estilo romântico que conhecemos hoje como “princesa”. Os espartilhos e corseletes ainda eram usados para sustentar os seios e marcar a cintura que se afinava quanto mais a saia ganhava volume. Também surgiram os bloomers, uma espécie de calção até o tornozelo, usado para evitar que o giro do vestido permitisse que a perna da mulher fosse vista!

No entanto (e graças aos céus!), a partir de 1865, o volume das roupas começa a ser jogado para trás, surgindo as meia-crinolinas. Na década seguinte, surgem as anquinhas ou bustle, armação usada para dar volume ao traseiro apenas. Mas as peças de baixo (pantalete com camisa) ainda vigoram e sobre elas, o espartilho marca as finas cinturas.

Caminhando para final do século, a Belle Époque traz ao guarda roupa feminino a leveza de volta. Os espartilhos rígidos e a necessidade de uma cintura muito fina e marcada saem de moda, as anquinhas vão diminuindo até desaparecerem e os vestidos com silhueta reta e longa voltam à moda, mas com tecidos mais pesados do que no início do século e com mangas longas predominando. Além disso, a renda e os bordados se tornam o centro da moda e aparecem até nas vestimentas de baixo que ganham em luxo e detalhes, contudo, deixando o exagero para os acessórios e chapéus. Moda que se manteria até o final da Primeira Guerra Mundial.


Mitos


Segundo a figurinista e corsetmaker Melissa de Vargas, do atelier Josette Blanchard, em nenhum momento “o corset extremamente apertado e a cintura explodindo de fina era obrigatório. A principal função do corset era dar sustentação à coluna, aos seios e segurar as armações pesadas”. As histórias de que crinolinas e saias pegavam fogo, ou eram arrastadas por carroças, trens ou qualquer derivação dessas, são invenção que foram repetidas ao longo da história. Ainda segundo Melissa, esses boatos e mitos foram perpetuados por fotos antigas e falsas de tórax deformados por corsets. A verdade é que “existiam pessoas que possuíam anomalias congênitas e os médicos da época, que não exerciam a medicina baseada em evidências, nem em estudos sérios, adoravam botar a culpa nos corsets, até mesmo para a infertilidade feminina”.


@ludmilaribeirodemello

@josetteblanchard

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